Estudo - Adolescência Mitos e Verdades
- Marcelo Martins
- 29 de out.
- 13 min de leitura

Depressão e Suicídio na Adolescência: Um Guia Técnico para a Identificação Precoce e Intervenção Intersetorial
Resumo
A depressão na adolescência representa uma crise de saúde pública, agravada pela sua manifestação atípica e pela persistência de mitos populares que minimizam a gravidade dos sintomas.1 A transição biopsicossocial da adolescência, caracterizada pela elaboração de lutos inerentes à perda da condição infantil e pela intensa busca por identidade 1, frequentemente mascara a patologia, levando ao atraso no diagnóstico e aumentando o risco letal. O presente relatório técnico destina-se a orientar profissionais de saúde, educadores e familiares na compreensão da intersecção complexa entre o desenvolvimento juvenil, os transtornos depressivos e o comportamento suicida.
As principais conclusões indicam que a depressão em adolescentes manifesta-se predominantemente através de irritabilidade, mau humor e isolamento, e que o humor irritável é reconhecido como sintoma equivalente ao humor deprimido no DSM-V para esta faixa etária.2 A confusão dessa sintomatologia com o "drama" ou "fase da idade" (mitos) é um obstáculo significativo, sendo crucial diferenciar o isolamento crônico e patológico (que causa prejuízo funcional) do isolamento transitório (próprio da busca por autonomia).3
A combinação de desesperança, inflexibilidade cognitiva e alta impulsividade 4 constitui um perfil de alto risco para o suicídio. A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é apontada como uma alternativa eficaz no tratamento e prevenção desses comportamentos, atuando na reestruturação de cognições disfuncionais, como a visão em túnel e a desesperança, que são preditores relevantes do risco de suicídio.1
1. A Adolescência: O Contexto da Vulnerabilidade Psicossocial
1.1. A Transição Biopsicossocial: Da Dependência à Autonomia
A adolescência (geralmente entre 10 e 19 anos 1) é um período fundamental do ciclo vital, definido pela transição da criança dependente para a vida adulta independente.5 É uma fase marcada por profundas transformações em quatro domínios interligados: físico, cognitivo, social e emocional.5 A intensa reorganização biopsicossocial torna essa etapa especialmente vulnerável a alterações psicológicas, notadamente o surgimento de quadros depressivos.6
Nesta fase, o adolescente vivencia a redefinição da imagem corporal, a construção da individualização e a elaboração dos lutos referentes à perda da condição infantil.1 É o momento de estabelecimento de valores individuais e inserção em grupos sociais, dando início a um ritual a caminho da fase adulta e da identidade sexual.1 Embora essa transição seja natural, as mudanças físicas, emocionais e sociais, associadas a fatores como baixa condição financeira, abuso ou violência, expõem os jovens a condições que podem torná-los vulneráveis a condições mentais doentias.1
Um achado clínico relevante para a compreensão da vulnerabilidade é a proeminência da dimensão afetivo-emocional na autoavaliação da saúde. Estudos com adolescentes indicam que a componente afetivo-emocional — expressa pela satisfação com a vida e felicidade — tem maior relevância do que a componente cognitiva para a percepção da qualidade de vida.7 O adolescente, no processo de construção de identidade, necessita de validação social e estabilidade afetiva; quando esses pilares são abalados, a vulnerabilidade psicológica se manifesta intensamente.6
1.2. Fatores Cognitivos Aumentando o Risco Imediato
O desenvolvimento neurocognitivo durante a adolescência é não-uniforme, com o sistema límbico (emoções) amadurecendo antes do córtex pré-frontal (controle executivo).4 O risco de suicídio está intimamente ligado a fatores cognitivos específicos, que podem ser exacerbados por essa imaturidade.4
A identificação de fatores cognitivos disfuncionais é crucial, pois eles podem indicar um alto risco para uma primeira tentativa ou recorrência do comportamento suicida.4 Entre os fatores críticos identificados estão:
A desesperança .
Um potencial reduzido para a geração de soluções alternativas em situações problemáticas interpessoais .
Uma menor flexibilidade para o enfrentamento de problemas .
O estilo de atribuição disfuncional, onde o adolescente considera eventos negativos como sendo de sua responsabilidade exclusiva, duradouros e com impacto sobre todos os aspectos de sua vida .
A impulsividade é um fator de altíssima relevância, pois, combinada com a alta labilidade emocional da fase, pode reduzir drasticamente o tempo de latência entre a ideação suicida e a passagem ao ato. A falta de mecanismos cognitivos flexíveis para visualizar saídas alternativas, conjugada com a impulsividade, eleva o risco de letalidade.4
2. Transtornos Depressivos na Juventude: Diferenciação Clínica
2.1. Classificação e Prevalência
Os transtornos depressivos na juventude incluem o Transtorno Depressivo Maior, o Transtorno Depressivo Persistente (Distimia) e o Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor. A depressão atinge até 2% das crianças e 5% dos adolescentes 3 e é classificada pela OMS como um transtorno global que afeta o humor, cognição, comportamento, e aspectos sociais, sendo a prevalência no Brasil de cerca de 5,8% da população, a maior na América Latina.1
Quando não tratada, a perturbação depressiva tem apresentado um aumento nos últimos anos 6 e pode ser precursora de psicopatologia na vida adulta.6 A ideação suicida é identificada em 28,6% dos adolescentes com distúrbio depressivo, com para-suicídio (tentativa) ocorrendo em 21% desses casos.6
2.2. Sintomatologia Atípica: Irritabilidade e Alterações Comportamentais
A maior dificuldade no diagnóstico da depressão juvenil é a sua apresentação clínica atípica, que difere significativamente dos sintomas clássicos observados em adultos.2
Em vez do humor deprimido clássico, a manifestação mais proeminente e preocupante em crianças e adolescentes é a irritabilidade, comportamento mal-humorado e isolamento.2 O próprio Manual Diagnóstico e Estatístico DSM-V (2014) já descreve que o humor irritável pode ser o sintoma presente em crianças e adolescentes, em vez do humor triste.1
Outras manifestações centrais incluem:
Alterações Comportamentais e Anedonia: A perda de interesse ou prazer (anedonia) é central. O adolescente pode perder o interesse por atividades de passatempo prazerosas, como um indivíduo que antes era um ávido golfista e deixa de jogar.1 Outros sinais são: queda no desempenho escolar, fadiga constante e dificuldades alimentares ou de sono.2
Somatização: Sintomas físicos sem causa orgânica, como dores de cabeça, musculares e abdominais, presentes em cerca de 30,4% dos adolescentes com depressão.6
Peso Atípico: Em vez da perda de peso comum em adultos, o sinal clínico em adolescentes pode ser a falta de ganho de peso apropriado para o desenvolvimento ou o ganho excessivo de peso.2
3. Mitos e Estigmas: Separando Fases Normais de Patologia Clínica
3.1. O Perigo da Minimização: O Mito de "É Só Drama" ou "Fase da Idade"
O principal mito popular que confunde a patologia com o desenvolvimento normal é a crença de que os sintomas de mau humor, irritabilidade ou retraimento são apenas parte da "fase turbulenta" ou "coisa de adolescente".1 Esta confusão é facilitada pela sobreposição entre os sintomas atípicos da depressão e os comportamentos normais associados à crise de identidade e busca por autonomia.2 Ao minimizarem a seriedade dos sintomas, pais e educadores atrasam a busca por ajuda, permitindo que a patologia se cronifique ou escale para o risco suicida.6
A tarefa de diferenciar o que é normal do que é patológico na adolescência é complexa, dada a inconstância emocional e as transformações da fase.1 O isolamento social é um exemplo: embora seja comum o adolescente se isolar no quarto, afastado dos pais 1, o isolamento pode ser parte de um processo de luto transitório, onde a tristeza ocorre por um período, mas a pessoa preserva certos interesses.1 No entanto, o isolamento social crônico pode ser sintoma de transtorno de ansiedade social que evolui para transtorno depressivo maior.1
3.2. Critérios Objetivos para a Diferenciação Clínica
Para distinguir o mau humor transitório (típico do desenvolvimento) da depressão clínica, a avaliação deve focar em dois critérios objetivos: duração e impacto funcional.2
Os sentimentos de tristeza ou irritabilidade tornam-se clinicamente preocupantes quando são:
Persistentes e Duradouros: Permanecem por um período mais longo que o normal, sendo desproporcionais ao evento desencadeador.3
Debilitantes (Impacto Funcional): Causam dificuldades significativas na vida diária, como a queda persistente e significativa no rendimento escolar, ou o retraimento social de amigos e família que não era habitual.2
O indicador de alarme mais fiável é a alteração do comportamento basal normal.2 É fundamental observar se o adolescente, que costumava manter contato com seus pares na escola e nas redes sociais 1, agora se afasta consistentemente, apresentando um desvio persistente da sua capacidade de funcionar.
A Tabela I detalha o contraste entre o comportamento esperado na adolescência e os sinais clínicos que requerem atenção:
Tabela I: Comparativo Comportamento Adolescente Normal vs. Depressão Clínica
Domínio/Sintoma
Comportamento Típico Adolescente (Normal)
Sinal de Depressão Clínica (Patológico)
Foco de Alerta
Humor
Flutuações, resistência à autoridade, tristeza ocasional.1
Irritabilidade persistente, mau humor extremo, tristeza/choro fácil duradouro.2
Irritabilidade é o sintoma central na juventude.2
Relacionamento Social
Busca intensa por pares, conflito com a família.1
Isolamento social crescente (que não era habitual), retraimento de amigos e família; Hostilidade.2
Perda de interesse em atividades prazerosas (anedonia).1
Acadêmico
Quedas momentâneas de rendimento, desinteresse por matérias específicas.
Queda persistente e significativa no rendimento escolar, dificuldades de concentração.2
Impacto na capacidade de funcionar diariamente.3
Físico/Peso
Preocupações com a imagem corporal, hábitos alimentares instáveis.
Não ganhar peso de forma apropriada ou ganho excessivo de peso 2; Presença de sintomas somáticos (dores).6
Sinal atípico de depressão juvenil.2
4. O Risco de Suicídio na Adolescência: Conectando Fatores
4.1. Epidemiologia e Urgência
O comportamento suicida (gestos, tentativas e suicídio consumado) é uma questão de urgência global. O suicídio é a segunda ou terceira principal causa de morte entre adolescentes nos Estados Unidos . No Brasil, a taxa de mortalidade por suicídio aumentou 43% em uma década 10, e o suicídio é a principal causa de morte em 2º lugar, atrás apenas das mortes no trânsito.1
A depressão é um forte preditivo, mas não o único fator para o comportamento com risco de suicídio.1 A psicopatologia aumenta o risco, mas o comportamento auto infligido pode ocorrer mesmo sem a presença do transtorno depressivo.1 O silêncio da sociedade, autoridades e profissionais sobre o suicídio agrava o problema, dificultando a prevenção e o acolhimento necessário aos sobreviventes de tentativas.1
4.2. Fatores de Risco Estruturais e Clínicos
O suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial.1 A avaliação do risco exige a consideração de um amplo conjunto de fatores estruturais (vulnerabilidade crônica) e clínicos.9
Fatores de Risco de Alta Prioridade (Histórico Pessoal e Clínico):
Tentativas Anteriores e Autoagressão: O histórico de tentativas de suicídio ou autoagressão (automutilação) é o preditor de risco mais potente.9
Transtorno Mental: A presença de psicopatologias como transtornos de personalidade, esquizofrenia, alcoolismo, transtorno de humor e depressão aumentam o risco.9
Abuso de Substâncias: O uso abusivo de álcool e outras drogas compromete o julgamento e aumenta a impulsividade.9
Fatores Contextuais e de Violência (Estressores):
Violência e Abuso: Exposição a situações de violência intra ou extrafamiliar ou histórico de abuso sexual.9
Bullying: O bullying é um estressor severo, manifestando-se de várias formas e causando sofrimento 1, sendo um fator que contribui para o aumento do risco.9
Relações Afetivas Frágeis: O "amor não correspondido" em várias áreas da vida e o frágil vínculo afetivo com pais foram a principal queixa apresentada por adolescentes que tentaram suicídio, destacando a família como promotora dos primeiros vínculos afetivos.1
Uso Excessivo de Redes Sociais: Adolescentes que passam mais de cinco horas em redes sociais e na internet têm possibilidade 10 vezes maior de morte por suicídio.1
Histórico Familiar: Suicídio(s) na família ou histórico familiar de transtornos do humor.9
5. Diretrizes de Identificação Precoce: Sinais de Alerta para a Comunidade
5.1. Sinais de Alerta para o Risco Imediato
A identificação precoce por parte de indivíduos leigos e profissionais (pais, professores, psicólogos e médicos) é a estratégia mais crítica para prevenir o suicídio. Os profissionais de saúde dos cuidados primários e os educadores (que são frequentemente os primeiros a tomar contato com a problemática 6) devem ser capacitados para o reconhecimento.
Sinais de Alerta para o Comportamento Suicida (Risco Agudo):
Verbalização da Intenção: Expressão clara e direta de ideias ou de intenções suicidas.9
Desesperança e Preocupação com a Morte: Preocupação obsessiva com a própria morte ou uma intensa falta de esperança. A desesperança é um fator de risco crítico, que leva o indivíduo a crer equivocadamente que o suicídio é a única opção plausível, pois a situação vivenciada é permanente.1
Mudanças Drásticas e Comportamentais: Alterações significativas e repentinas nos níveis de atividade ou de humor 9; Consumo abusivo de álcool e drogas, ou fugas de casa.1
Isolamento e Autocuidado: Crescente isolamento de amigos e familiares, e diminuição ou ausência de autocuidado.9
É vital monitorar a autoagressão (automutilação), que, embora seja classificada como baixo risco letal imediato quando ocorre sem um plano específico , é um sinal de alerta e um forte fator de risco para tentativas futuras.9
5.2. O Papel de Pais, Professores e Profissionais de Saúde
Os pais e professores são modelos de identificação e observadores mais próximos.11 Ações críticas incluem a vigilância e supervisão adequada 3, e priorizar a comunicação aberta e o apoio emocional.11
A busca por ajuda profissional deve ser imediata se houver risco ativo, acionando serviços de atendimento a crises ou números de emergência (190 e 193).9 Os Conselheiros Tutelares possuem a atribuição legal de aplicar medidas de proteção à criança ou adolescente em situação de risco.9
A Tabela II sintetiza a distinção operacional entre vulnerabilidade crônica e risco agudo, crucial para a tomada de decisão:
Tabela II: Fatores de Risco (Vulnerabilidade) vs. Sinais de Alerta (Risco Agudo)
Categoria
Fatores de Risco Estruturais (Aumentam Vulnerabilidade Crônica)
Sinais de Alerta Imediato (Indicam Risco Ativo e Agudo)
Ação Requerida
Histórico Clínico
Tentativas anteriores de suicídio/autoagressão; Histórico de transtorno mental.9
Expressão de ideias ou intenções suicidas; Desesperança.9
Avaliação de Risco e Intervenção de Crise.
Contexto Social
Violência intra/extrafamiliar, Abuso sexual, Bullying; Frágil vínculo afetivo com pais.9
Isolamento crescente de amigos/família; Diminuição do autocuidado.9
Acolhimento e Suporte Social/Familiar.
Comportamental
Baixa autoestima; Uso abusivo de drogas/álcool.9
Alterações extremas no humor/sono/alimentação 9; Mudanças no vestuário para cobrir o corpo.9
Busca urgente por ajuda profissional (Psicólogo, Psiquiatra).
6. A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) na Prevenção e Tratamento
6.1. O Modelo Teórico da TCC para Depressão e Suicídio
A TCC, desenvolvida por Aaron Beck e Albert Ellis, é um tratamento psicoterápico de curta duração e focado no presente, sendo reconhecida como altamente eficaz no tratamento e prevenção da depressão e do risco de suicídio infanto-juvenil.1 O modelo se baseia no pressuposto de que as respostas emocionais e comportamentais são intermediadas pela cognição: a maneira como os processos cognitivos (crenças, pressupostos e pensamentos) interpretam os estímulos ambientais influencia as emoções e reações.1
Para o paciente com risco de suicídio, o tratamento concentra-se na problemática presente, visando diminuir a probabilidade dos comportamentos de risco.1
Construtos Cognitivos Centrais Abordados pela TCC:
Desesperança: Considerado um preditor relevante 1, a TCC atua para reverter a crença de que a situação negativa é permanente e que o suicídio é a única opção plausível.1
Visão em Túnel: O comportamento suicida está relacionado a essa distorção cognitiva, onde o indivíduo percebe a realidade de forma seletiva, focando apenas nos aspectos negativos e desconsiderando dados contrários.1
Distorções Cognitivas: Incluem os pensamentos de "tudo ou nada" (análises dualistas e extremas) e as supergeneralizações (que ampliam padrões negativos de uma área para várias áreas).1
Déficits na Resolução de Problemas: A TCC visa aumentar a capacidade do paciente de gerar soluções alternativas e adaptar-se a situações estressantes.1
6.2. Eficácia e Abordagem Terapêutica
A TCC é o tratamento terapêutico mais verificado no tratamento da depressão infanto-juvenil, com resultados satisfatórios e bem estabelecidos desde a década de 1980.1
Eficácia Comprovada: A TCC demonstrou eficácia na diminuição do número de comportamentos de suicídio e na redução de sintomas e transtornos depressivos em adolescentes, tanto em modalidade individual quanto em grupo.1
Terapia Combinada: Em conjunto com o tratamento psicotrópico (inibidores da recaptação de serotonina), a TCC mostrou-se efetiva na diminuição dos sintomas depressivos, mesmo na presença de comorbidades.1
Intervenção na Crise: Na crise de suicídio, o profissional adota uma postura proativa e sugestiva, pois o paciente está com a capacidade de avaliação da realidade comprometida pela desesperança. A fase inicial do tratamento foca no "aqui e agora", utilizando a psicoeducação para transmitir esperança e reforçar pensamentos e comportamentos adaptativos.1
7. Estratégias de Prevenção, Intervenção e Pós-Venção (Ações Setoriais)
7.1. Prevenção Universal e Intervenção Clínica
A prevenção universal visa reduzir a incidência do suicídio em toda a população.11 As ações de prevenção primária incluem: remoção de barreiras para o cuidado, fortalecimento dos fatores de proteção (suporte social), restrição do acesso a meios letais, e veiculação midiática responsável.11 O psicólogo atua como mediador para diminuir os estigmas e crenças erradas, facilitando uma comunicação mais fluida entre o adolescente e sua rede de apoio.12
7.2. O Ambiente Escolar: Acolhimento e Posvenção
A escola é reconhecida como um ambiente privilegiado para a promoção da saúde mental e prevenção do suicídio.9 A parceria estreita entre pais e professores é crucial.11
Sugere-se que todas as escolas desenvolvam um Plano de Prevenção Escolar que inclua ações de promoção de saúde mental, estratégias de intervenção em crise e, fundamentalmente, ações de posvenção.11 É imperativo que os adolescentes se sintam seguros para expressar seus pensamentos e sentimentos sem receio de julgamentos, críticas ou cobranças, garantindo que o acolhimento proporcione alívio e oportunidades para reflexão.11
7.3. Posvenção: Cuidados Após a Perda
A posvenção engloba os cuidados prestados a indivíduos impactados pelo suicídio de alguém, ajudando-os a lidar com os efeitos emocionais da perda.3 Em escolas, deve ser iniciada nos primeiros dias após o falecimento para gerenciar o luto, evitar o efeito contágio e identificar recursos de apoio.11
Orientações para a Comunicação Responsável (Aplicáveis em Todos os Setores) 11:
Evitar a Simplificação: Não atribuir uma causa única ou explicação simplista, pois o suicídio é multifatorial.11
Combate ao Efeito Contágio (Werther): Não divulgar o método específico, nem publicar cartas ou posts sobre o local da morte, preservando a privacidade da pessoa e da família.11
Linguagem Acolhedora e Não Estigmatizante: Evitar termos estigmatizantes, como “suicídio exitoso” ou “cometeu suicídio”. O foco deve ser o incentivo à busca por ajuda.11
Normalização do Luto: Permitir que as pessoas expressem emoções complexas (raiva, culpa, tristeza, confusão) livremente, sem minimização ou imposição de prazos, reconhecendo que reações complexas ao luto por suicídio são esperadas.11
Conclusão e Recomendações Finais
A depressão e o risco de suicídio na adolescência constituem um desafio que exige uma abordagem intersetorial, informada e urgente. O principal obstáculo reside na invisibilidade da patologia, camuflada pela irritabilidade e pelo isolamento, e perpetuada por mitos que a classificam como uma "fase normal" da vida.1 A falha em distinguir o isolamento transitório da adolescência do isolamento crônico e patológico atrasa o tratamento.1
O reconhecimento da vulnerabilidade emocional central do adolescente, dos fatores de estresse contextuais (vínculo afetivo frágil, bullying, uso excessivo de redes sociais 1) e dos fatores cognitivos de risco (impulsividade e desesperança 1) é o primeiro passo para a prevenção eficaz. A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é uma alternativa de excelência no tratamento, pois oferece recursos para reestruturar cognições disfuncionais, como a desesperança e a visão em túnel, que são preditores relevantes do risco de suicídio.1
Recomendações Chave:
Capacitação Intersetorial: Treinamento contínuo de médicos de cuidados primários e educadores para diferenciar o comportamento adolescente normal da patologia clínica, focando na persistência e no impacto funcional.2
Monitoramento de Comportamento Basal: Incentivar pais e professores a monitorar desvios persistentes do comportamento normal do jovem, observando a anedonia e o isolamento social que causam prejuízo funcional.1
Intervenção Focada em Cognição (TCC): A intervenção deve abordar ativamente os fatores de risco cognitivos (desesperança, impulsividade, déficits na resolução de problemas) através de técnicas da TCC, que se mostrou eficaz na redução de sintomas e prevenção de recaídas.1
Implementação de Posvenção: Adotar e executar diretrizes claras de posvenção em ambientes escolares para gerenciar o luto de forma segura, evitando o efeito contágio e normalizando as reações complexas.11
Referências citadas
TCC - versão final Psicologia Marcelo.pdf
Especialista da Mayo Clinic explica diferenças entre a depressão ..., acessado em outubro 29, 2025, https://newsnetwork.mayoclinic.org/pt/2022/05/24/especialista-da-mayo-clinic-explica-diferencas-entre-a-depressao-em-adultos-e-em-adolescentes/
Depressão e transtorno da desregulação do humor em crianças e adolescentes - Problemas de saúde infantil - MSD Manuals, acessado em outubro 29, 2025, https://www.msdmanuals.com/pt/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/dist%C3%BArbios-da-sa%C3%BAde-mental-em-crian%C3%A7as-e-adolescentes/depress%C3%A3o-e-transtorno-da-desregula%C3%A7%C3%A3o-do-humor-em-crian%C3%A7as-e-adolescentes
Saúde Mental: Suicídio na Infância e Adolescência - MPPR, acessado em outubro 29, 2025, https://site.mppr.mp.br/crianca/Pagina/Saude-Mental-Suicidio-na-Infancia-e-Adolescencia
Desenvolvimento psicossocial em adolescentes - Pediatria ..., acessado em outubro 29, 2025, https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/pediatria/problemas-de-sa%C3%BAde-em-adolescentes/desenvolvimento-psicossocial-em-adolescentes
Depressão nos adolescentes – mito ou realidade? - Repository, acessado em outubro 29, 2025, https://repositorio.ulssa.pt/entities/publication/db6a2399-4fc8-4f90-9ff3-d6bc0c3a81e1
Processo adolescente e saúde positiva: âmbitos afectivo e cognitivo - SciELO, acessado em outubro 29, 2025, https://www.scielo.br/j/prc/a/NPS5qY79TKxmvPFyqhDpqTc/?lang=pt
Comportamento suicida em crianças e adolescentes - Problemas de saúde infantil, acessado em outubro 29, 2025, https://www.msdmanuals.com/pt/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/dist%C3%BArbios-da-sa%C3%BAde-mental-em-crian%C3%A7as-e-adolescentes/comportamento-suicida-em-crian%C3%A7as-e-adolescentes
PREVENÇÃO DO COMPORTAMENTO SUICIDA - Secretaria ..., acessado em outubro 29, 2025, https://saude.rs.gov.br/upload/arquivos/carga20190837/26173730-guia-intersetorial-de-prevencao-do-comportamento-suicida-em-criancas-e-adolescentes-2019.pdf
Taxa de suicídio cresce 43% em uma década, no Brasil | Portal Médico, acessado em outubro 29, 2025, https://portal.cfm.org.br/eventos/taxa-de-suicidio-cresce-43-em-uma-decada-no-brasil/
Guia de orientações para abordagem ao luto por suicídio e ... - ABEPS, acessado em outubro 29, 2025, https://abeps.org.br/wp-content/uploads/2024/01/guia-de-orientacoes-para-abordagem-ao-luto-por-suicidio-e-posvencao.pdf
Suicídio na adolescência: fatores de risco, depressão e gênero - Pepsic, acessado em outubro 29, 2025, https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-34822013000100002


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